terça-feira, 6 de outubro de 2015

Não se entala quem tem a faca e o queijo na mão

O PS só se entala se quiser. Qual é a pressa? Porque a múmia falou? Governos de coligação, sobretudo aquelas que não estão já vislumbradas antes da eleição, demoram muito tempo a cozinhar, na Bélgica passa um ano e ninguém perde o chão por isso. O que o PS devia fazer: 

1) Lembrar que o apuramento dos resultados e consequente medir de forças na AR ainda não está feito e que negociações detalhadas de possíveis governos de coligação só podem ser feitos depois disso. Imaginem que o PS acaba com mais deputados do que o PSD p.ex. (improvável, mas possível), nesse caso qualquer coligação que envolva PS e PSD deve ter o PS como líder, ou seja, Costa PM. 

2) Que bom, o PCP e o BE querem negociar! Ótimo, primeira abertura em décadas. Recordar que o Livre é um fruto da recusa do BE em negociar soluções de governo com o PS. Isto é progresso, isto é ótimo. E o PS devia começar a negociar imediatamente. Até para que se perceba se o PCP e BE querem mesmo negociar, fazer compromissos e cedências, procurar consensos entre os muito diferentes programas eleitorais. Ou se só querem entalar o PS. O PS só se desentala se começar já a negociar com eles. Na pior das hipóteses dão uns muito divertidos calafrios à direita. 

3) Ir avisando o "PÀF" que um indiscutível derrotado da noite eleitoral foi o CDS, perdeu mais de 60% de votos nas ilhas e o único deputado que tinha. PSD+CDS em 2015 tiveram os mesmos votos que o PSD sem CDS em 2011. Os deputados que conseguiu à custa do PSD não chegam para nada, não viabilizam governo nenhum. Pelo que se o PSD quiser coligar com o PS tem escolha simples, correr já com o CDS. O PS deve deixar claro que não faz tensões de se sentar à mesa com o CDS. Política é isto, fazer Portas engolir o seu discurso de domingo à noite, quando pedia a demissão de Costa. 

Por outro lado se o PS considerar de facto ir para um governo de bloco central deve ter noção que deixar a oposição apenas à sua esquerda é o seu suicídio eleitoral. Só com o CDS na oposição, e zangado com o PSD, haverá possibilidade de sobrevivência para o PS. 


4) É ok o PS ficar na oposição, viabilizando um governo PÀF. É o "costume" em Portugal. Mas é uma solução que garante instabilidade governativa e prováveis eleições antecipadas, não sendo líquido que o PS consiga aproveitar o melhor momento para se fazer ao poder. Nunca subestimar o poder de autovitimização da direita. O maior poder que o PS tem é agora, e se for essa a saída escolhida as linhas vermelhas para o governo têm que ser traçadas de forma muito clara para que o PS dê o chumbo sem medo quando for necessário fazê-lo. 

A quem achar tudo isto muito estranho leia este artigo do Expresso que mostra vários casos europeus (os nossos parceiros como lembrava a múmia), em muitos deles não teria havido qualquer dúvida em classificar o PÀF de derrotado da noite. Mas em Portugal a baixar de 50% para 38% continuavam a falar em "grande vitória" e os jornalistas da TV só abanavam com a cabeça que sim. Durou uma noite, já perceberam que dependem do PS para tudo.

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